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Brasil poderá ter carência de 235 mil professores de educação básica até 2040

Uma pesquisa divulgada pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) mostra que, até 2040, o Brasil poderá ter uma carência de 235 mil professores de educação básica. O levantamento foi feito a partir de dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao Ministério da Educação, que mostra que o porcentual de novos alunos em cursos de Licenciatura com até 29 anos de idade caiu de 62,8%, em 2010, para 53%, em 2020. De 2010 a 2020, o crescimento no ingresso em graduações envolvendo o ensino foi de 53,8%, enquanto que para outros cursos o crescimento foi de 76%.

Para Sílvia Colello, professora sênior da pós-graduação da Faculdade de Educação (FE) da USP, a desvalorização da profissão é um dos grandes fatores para o problema do desinteresse e do desânimo. “O maior problema é a desvalorização da profissão docente no Brasil. O que, na prática, se reflete numa baixa remuneração. Para que a gente possa ter uma ideia, na média, os professores ganham muito menos do que outros profissionais que têm o mesmo grau de escolaridade. (…) Precisamos ver também as condições de trabalho, tanto materiais quanto as condições humanas, pois, muitas vezes, esse professor tem uma carga maciça de trabalho e sem apoio da gestão escolar”, explica a professora.

Entre preparar aulas, corrigir provas e levar uma grande quantidade de trabalho para casa, esses momentos fogem da contabilidade da carga horária, tornando o ato de ensinar não só mal remunerado, como também custoso e cansativo, como explica Sílvia. “A gente tem a impressão de que muitos professores trabalham meio período, por exemplo, mas na verdade ele acaba preenchendo grande parte do seu tempo fora da escola com a preparação desses trabalhos, correção de provas e atividades.”

Sílvia Colello – Foto: Divulgação/FE-USP

Envelhecimento

Dessa forma, a profissão vem apresentando um característico envelhecimento. Entre 2009 e 2021, o número de professores em início de carreira, com até 24 anos de idade, caiu de 116 mil para 67 mil, uma retração de 42,4%. Enquanto isso, o porcentual de docentes do ensino básico com 50 anos ou mais cresceu 109% no período. Tais dados levantam preocupações sobre o futuro da educação do País, que, apesar de se apresentar estável, com cerca de 2,2 milhões de professores atualmente, choca-se com as projeções, que indicam que o Brasil chegará a 2040 com apenas 1,74 milhão de professores.

Para Sílvia, o campo das Exatas e Biológicas serão os mais afetados pela falta de professores, afinal, possuem um campo maior de possibilidades para outros empregos. “Essas áreas é onde é mais fácil encontrar outras ocupações. Para dar um exemplo, aquele professor de matemática acaba escapando para a área econômica. Aquele professor de biologia acaba escapando para a área farmacêutica, por exemplo, e por aí vai”, detalha a professora. E a preocupação prova-se verdadeira, pois a pesquisa mostra que o número de alunos que concluiu o curso de Licenciatura em biologia entre 2016 e 2020 caiu em 21,3%. Em química, a redução ficou em 12,8% no período e, em letras, 10,1%.

Uma nova reformulação de trabalho e aplicação de novas políticas públicas tornam-se necessárias para a melhoria das condições de trabalho dos professores, visando ao incentivo de jovens em seguir a carreira docente. Segundo a professora, políticas como “valorização da profissão docente atrelada ao aumento significativo do peso do piso salarial, à melhoria das condições de trabalho dentro da escola, mas também tudo o que diz respeito à gestão educacional e ao incentivo e ao estabelecimento e desenvolvimento de planos de carreira para que o professor tenha a oportunidade de se especializar cada vez mais, de atuar cada vez de uma melhor forma, de conseguir melhores resultados e obviamente mais realização profissional e pessoal” são necessárias para a valorização do professor e para o fim da exaustão docente.

Fonte: Jornal da USP

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